quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Andorinhas de Macapá









É um espetáculo a revoada de andorinhas no fim de tarde em Macapá.
Todos os dias, como se ouvindo um chamado, em bando elas surgem. Minúsculos pontinhos negros quase imperceptíveis na imensidão do céu amazônico. Com impressionante velocidade de aproximação, guiadas por inabalável determinação, rodopiam em bruscas manobras acrobáticas. Vindas não sei de onde, elas voltam para passar a noite pousadas nos fios da rede elétrica do cruzamento rua Cândido Mendes com a avenida Padre Júlio Maria Lombaerd, no centro da cidade.
Aos poucos diminui o chilreio, a algazarra.
Num instante estão prontas para o pernoite, acomodadas na fiação.
Pedestres fogem do "bombardeio", que deixa asfalto e calçadas cobertas de excrementos.
Pela manhã o bando se vai, sumindo em frenética revoada.



Andorinhas são conhecidas em quase todo o mundo. Vivem em bandos e, donas de grande fôlego, são capazes de voar longas distâncias, sobre mares, desertos e lagos para fugir do inverno. Retornam ao mesmo local ao final da fria estação. Dizem que elas trazem o verão. Sempre em bando, pois, como diz o povo, "uma andorinha só não faz verão".

No Brasil são conhecidas 16 espécies em 9 gêneros. São muito comuns em nossa terra. Costumam escolher áreas abertas para viver. Na Amazônia, é especialmente ao longo dos rios e lagos que as encontramos. Em Macapá, não se sabe o porquê, escolheram um cruzamento no centro da cidade para passar a noite. Todos os dias, há anos, proporcionam o mesmo espetáculo, pousando na fiação.

Com fracos e pequenos pés e pernas, são mesmo exímias voadoras. É voando que se banham em rápidos mergulhos e se alimentam de insetos.

Seus ninhos são feitos em telhados, beirais, calhas, buracos nas paredes, nas árvores, nas rochas. Sempre próximos uns dos outros. Um mesmo ninho pode ser utilizado muitas vezes pelo mesmo casal. Algumas espécies aproveitam buracos feitos por outros animais, outras, cavam seus próprios buracos. Machos e fêmeas trabalham na construção do ninho, que podem ser feitos com lama, esterco, palha, capim ou saliva, mas o forro interno, de ervas ou penas, é feito pela fêmea. Na China, a sopa de ninhos de andorinha é uma iguaria requintada!
Depois de chocados os ovos pela fêmea ou por ambos, dependendo da espécie, a ninhada é alimentada por ambos os sexos.

Fazendo parte da paisagem de muitas cidades, são encontradas também em poesias e letras de músicas. Foi moda em outros tempos pendurar andorinhas azuis de porcelana na parede das varandas, geralmente um trio, de tamanhos diferentes.

Seu alarido nos finais de tarde provoca admiração em muitas pessoas, amantes da natureza. Outros, irritados, impacientes com algazarra e com a sujeira de seus dejetos nas calçadas, planejam atos bárbaros para se livrar do incômodo. Exigem providências das autoridades, esquecendo que andorinhas devoram quantidades incríveis de insetos prejudiciais a nossa vida.




Andorinha, andorinha,
Andorinha avoou,
Andorinha caiu,
Curumim a pegou.

- Piá, não me maltrata não!
Eu levo você pro mato
Enxergar bichos tamanhos
E correr com os guanumbis...

O menino brincava
Andorinha sofria
E dum lado pra outro
Atordoada gemia:

- Piá, não me maltrata não.
Eu levo você pro mar
Ver as ondas ver as praias
Ver os peixinhos do mar...

O menino malvado
Tapera machucou.
E já morremorrendo
A coitada falou:

- Piá, não me maltrata não.
Eu levo você pro céu...
E nunca ninguém não cansa
De ver as coisas do céu...
É um sítio bonito mesmo
Beiradeando o trem-de-ferro,
Lá você acha sua gente
Que faz muito que morreu.
Assegura em minhas penas,
Vamos embora com Deus...

Lenda do Céu, Mário de Andrade
(In Poesia fora da estante)


Bibliografia:

Aves - MEC
Poesia fora da estante - Vera Aguiar (coord.) - Ed. Projeto; CPL/PUCRS, 1995
http://www.bio2000.hpg.ig.com.br/index.htm
http://www.cidadevirtual.pt/p.e.monsanto/jornal/marco97/jornal_2.html
http://www.aap.co.pt/revista/coisas_fascinam/text_113_nidificacao_andorinhas.htm
http://www.nationalgeographic.pt/revista/0702/feature6/default.asp


Facilitador de Mudanças Educacionais

"Profissionais que compreendem a complexidade do processo de mudança/aprendizagem e sabem como intervir, no nível das organizações e no nível individual, para que informações e teorias transformem-se em práticas que levem à aprendizagem dos alunos."

Princípios

1. Acreditar que os educadores e as escolas podem aprender (mudar) e que essa mudança não é um evento, e sim um processo complexo, não linear e demorado.

2. Colocar a pessoa, suas necessidades e preocupações, no centro do processo.

3. Focalizar a autonomia do aprendiz, estimulando-o a assumir responsabilidade por sua própria aprendizagem e desenvolvendo sua habilidade de formular perguntas que provoquem a reflexão.

4. Possibilitar o trânsito entre a teoria e a prática, ajudando o aprendiz a refletir e tomar consciência de suas Teorias Subjetivas - valores, crenças, conhecimentos que embasam seu modo atual de agir - e eventualmente mudá-las.

5. Facilitar ao aprendiz a construção de conhecimento, de forma metódica, organizando situações de aprendizagem onde, por meio de procedimentos / dinâmicas, ele seja desafiado a colocar em prática informações / conceitos e a experimentar novos comportamentos profissionais.

6. Promover o diálogo e a colaboração.

7. Considerar o aprendiz como um todo, corpo e mente, fazendo com que emoções e sentimentos joguem a favor do processo de aprendizagem. Criar uma atmosfera propícia à alegria.

8. Investir no profissionalismo: saber fazer, saber por que faz o que faz, saber aperfeiçoar o que faz, resolvendo de forma cooperativa problemas cada vez mais complexos.

9. Modelar comportamentos e atitudes profissionais coerentes com os princípios acima.


O primeiro Curso de Formação de Facilitadores de Mudanças Educacionais foi oferecido em 2001/02 pelo CECIP - Centro de Criação de Imagem Popular - Educação para o Desenvolvimento Humano, em parceria com a APS - International (www.apsinternaltional.nl), instituição com sede em Utrecht, Holanda, que forma facilitadores de mudanças de modo a aperfeiçoar escolas e sistemas educacionais, para que alunos de qualquer idade aprendam mais.

Fiz parte dessa primeira turma e da equipe de facilitadores do CECIP, onde atuei no programa "Sucesso e Adaptabilidade na Escola : Mais Aprendizagem para Educadores e Alunos " com gestores e professores da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo em 2002 ; no programa " Botando a Mão na Mídia " para professores multiplicadores da Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro em 2003 e no programa " Trocando em Miúdos as diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil " junto ao SINPRORIO, em 2004.

Meu discurso como Oradora da Primeira Turma de Facilitadores do CECIP




Era uma vez, um grupo de pessoas escolhidas para fazer um curso no CECIP (Centro de Criação de Imagem Popular). Um curso de facilitadores de mudanças educacionais. Imaginando o que poderia ser um curso desses, nos encontramos, cheios de dúvidas, medos, curiosidades, incertezas. E então, dois anos se passaram. Aqui estamos hoje, encerrando este ciclo. Aprendemos muito. Ouvimos, lemos, produzimos. Ensaiamos, comemos deliciosos lanches frutíferos. No meio do caminho havia São Paulo! Um pedregulho de bom tamanho que ousamos enfrentar. Foi difícil. E choramos, passamos noites em claro. Nos desesperamos até! Mas rimos muito também. Comemos muuuito! Cantamos na beira de algumas piscinas e aprendemos bastante. Fizemos amizades importantes, estreitamos laços, iniciamos parcerias.

Podemos agora olhar pra trás e ver o quanto aprendemos. Quantas dúvidas foram desfeitas, quantas novas perguntas agora podemos nos fazer.

Penso em cada um, nos que se afastaram , em quem se aproximou depois.

E nossas coordenadoras?

Penso na Madza, sempre tão elegante, atenta, tomando notas, fazendo perguntas, nos encorajando. Fazendo apresentações brilhantes, dando deliciosas risadas, trazendo muitas vezes seus gatos para passearem entre nós.

Penso em Claudia, com uma doçura e suavidade tão imensas, dando show de competência e arrasando na tradução!

E Noni, a leveza em pessoa, fez nossas manhãs começarem desenferrujadas, esticadas, relaxadas. Noni prova que é possível ter seriedade sem peso, com sorriso nos olhos, alegria de viver.

Esse trio de coordenadoras, essas moças, construiram um trabalho magnífico. Prepararam a terra, trouxeram água, luz, calor e esperança, pra essa plantação de sementes que, certamente, produzirão sombra boa, perfume, frutos deliciosos.

E Boudewijn, que figura mais holandesa! Trouxe preciosas informações, possibilitou tantas reflexões, tantas descobertas... saiu sem gravata, sacudiu o esqueleto, até massagem deu e recebeu! Um tanto "duro", é verdade! Ah, e não dá pra esquecer das deliciosas balinhas de café que trouxe em sua última vinda!

E é preciso falar do Claudius, agradecendo esse investimento. No Marceloe seu apoio inestimável, na Zilma e seu delicioso café, na equipe CECIP como um todo.

Mas nem tudo foi fácil. Houve dificuldades, desentendimentos, desagrados. E isso trouxe muito crescimento. Lições de vida.

E como o nome já diz, lá vem mudança! Não é isso que todos buscamos? O curso acabou. E agora? É possível parar? De que modo vamos continuar? Com que objetivos? Ainda não sabemos, mas sabemos como fazer perguntas que nos façam pensar e agir. É só começar. Um pequeno passo. Uma pequena mudança e algo surpreendente pode acontecer. Queremos? Então podemos. E essa história, afinal, está apenas começando.

Entrou pela perna do pato, saiu pela perna do pinto. E nós, que somos muitos, juntos, contaremos muito mais do que cinco!




Rio, 10 de outubro de 2003

Seminário "Sucesso e Adaptabilidade na Escola : Mais Aprendizagem para Educadores e Alunos " em Águas de Lindóia - abril de 2002

Menos de 24 horas depois de deixar Águas de Lindóia, ainda me sinto sob o impacto de tantos acontecimentos, sentimentos, emoções. Sinto falta dos meus parceiros, das risadas, dos abraços, dos momentos de troca, dos olhares desejando força, sucesso, sorte.

Nenhum de nós é mais o mesmo depois desse seminário!

Estivemos em contato com mil pessoas, mediando debates, criando situações de reflexão, apagando incêndios, lidando com energias poderosas. Angústias, medos, frustrações. Esperanças renovadas, "altas expectativas".
Manejo, gerenciamento. Ação, reflexão. Aprender fazendo.

Foi desgastante. Foi intenso, foi pesado. Foi "muito". Me senti como uma corda de violão sendo afinada: esticando, esticando, esticando. Em alguns momentos questionei tudo, me senti desrespeitada, invadida, sobrecarregada.
Mas pude falar disso tudo e encontrar escuta. Aliviar a tensão.
No meio disso teve de repente um mergulho, um instante no ar antes de mergulhar, uma cerveja gelada, um céu estrelado, um sol de rachar, uma lua de endoidecer. Um copo de vinho e até mesmo um cigarro atrás do outro.
Entre tantas reuniões conseguimos rir muito e cantar. Como foi bom redescobrir este prazer.
Senti saudade da minha casa, da Lara. Mas foi bom sair e viver outra realidade tão diferente.
Ganhar novos amigos; começar a fazer parte da vida de outras pessoas é uma grande emoção.
Nós vivemos juntos algo tão nosso que só nós podemos aquilatar.

Muitos daqueles gestores (e professores também, com certeza) se sentem ameaçados, invadidos por toneladas de burocracia inútil, acuados por uma violência real que pode lhes tirar a vida. Convivem em ambientes hostis, de baixa ou nenhuma expectativa, desiludidos por décadas de promessas não cumpridas. Sentem-se perdidos diante de tantos problemas. Alguns tem como meta apenas sobreviver mais um ano, a mais um projeto. Acostumados ao desrespeito das autoridades, têm dificuldade para respeitar e confiar em seus pares e alunos.
Enfrentando esses desafios lá fomos nós, em alguns momentos nos sentindo um exército de Brancaleone.

É emocionante fazer parte de uma equipe que vem se preparando, estudando, construindo junto o passo a passo dessa caminhada para realizar um projeto inovador, idealista.
Fico pensando em seu futuro, não mais como um plano e um roteiro no papel, mas como expectativa concreta de tantas pessoas que pra mim agora tem cara, corpo, voz e esperanças.

Foi muito difícil sim, pra todo mundo. Mas se me perguntassem se eu preferia não ter vivido isso eu responderia sem pestanejar que não trocaria essa experiência e oportunidade por nada. Valeu muito. Aprendi muito, cresci muito. Me sinto feliz por tudo isso.

Sonhar não custa nada, mas demolir os pilares de uma ponte possível pro futuro pode ter um preço alto demais.
Meu desejo é que "as autoridades responsáveis" tenham consciência, sejam capazes de refletir e mudar sua prática. E que assinem logo esse contato!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Não dava pra sair do Acre sem conhecer (e abraçar!) uma Seringueira!

Em breve, uma aventura no Acre!

Laranjal do Jari: Uma aventura no Amapá jan 2002




Poucos dias depois do brutal assassinato do velejador neo-zelandês Peter Blake no Amapá, embarco para uma aventura que se inicia na mesma cidade que se tornou manchete nos jornais de todo o mundo em função da tragédia. Os "ratos d'água" - como são conhecidos os bandidos que assaltam as embarcações nos rios da Amazônia - protegidos pela escuridão e pela impunidade, dessa vez "se deram mal". No dia seguinte o bando foi preso. Perplexos, disseram não saber que a vítima era tão famosa. Cheguei no início da madrugada e logo fui envolvida pelo clima ainda tenso e pelo cheiro de fumaça das queimadas que estão destruindo grandes áreas da floresta. Do avião podíamos avistar na escuridão vários focos de incêndio. Só a chegada do inverno - o início da temporada de chuvas - poderá conter o fogo. A população de Macapá vem sofrendo com o problema.

Partimos cedo pela manhã, conduzidos pelo Sr. Oceano Atlântico, um simpático motorista que logo nos cativou. Éramos 6 pessoas ao todo, um tanto espremidos numa Pic-up Ranger, na expectativa de, logo adiante, encontrar a Van que deveria nos levar, com todo o conforto, através das 5 horas de estrada de terra que separa Macapá de Laranjal do Jari.

Logo nos afastamos da cidade, levantando muita poeira na estrada cortada no meio da mata. Foi uma emoção sentir a floresta amazônica ao meu redor. As paisagens iam se sucedendo: áreas queimadas, buritizais, o cerrado. Muitas pontes de madeira sobre rios mais e menos estreitos, a floresta. Castanheiras imensas numa área de reserva extrativista. Sumaúmas vigorosas. Aqueles cenários de livro de geografia eram reais e me contavam muitas histórias. Paramos logo depois de uma grande ponte sobre um rio largo, de onde pude avistar um estaleiro e algumas embarcações típicas da região.


Descobrimos ser nosso motorista (o Oceano Atlântico) sobrinho de um certo Sr. Oceano Pacífico. Não é qualquer um que têm uma honra dessas! Envolvidos num ambiente descontraído e com a temperatura fresca do ar refrigerado, acabamos nos divertindo muito, imaginando a Van com 15 lugares que viajou somente com o motorista até seu destino final.

Chegamos em Laranjal do Jari perto de duas horas da tarde, exaustos. Os biscoitos do caminho nos tiraram a fome, o que nos permitiu "cair duros" na cama, no Hotel Central.


Hotel Central

Laranjal do Jari é um município com 14 anos de idade. Nasceu na margem amapaense do rio Jari, em função do famoso e discutível Projeto de mesmo nome. Um empreendimento faraônico que enfrentou muitos problemas. Monte Dourado é a cidade que fica na margem paraense, em terra firme, onde os engenheiros e funcionários de primeiro escalão do Projeto se estabeleceram. Em Laranjal ficaram os peões, os "subalternos", sobre as palafitas - tipo de construção típica da região amazônica, na beira dos rios, nas áreas de várzea que inundam na época das chuvas. Sem planejamento, a cidade foi crescendo da margem do rio em direção ao "agreste", a terra firme. Há uma rua principal sobre aterro, onde circulam os carros e ônibus. Há 75 taxis por lá, que cobram R$ 1,50 em sistema de lotação. As outras ruas são na verdade passarelas de madeira suspensas sobre palafitas. No "beiradão", há um grande comércio em lojas e barracas, que vendem de tudo.


Todas as construções na área de várzea são de madeira. Não há saneamento básico e a coleta de lixo só atinge 30% das residências. A cidade já foi "campeã" em prostituição infantil, enfrentando ainda o tráfico de drogas e a violência de gangues. Por R$ 50,00 era possível "eliminar" um inimigo - o preço da vida em Laranjal.
Na várzea, o esgoto vai para debaixo das casas, onde há também muito lixo. Um estudo identificou que quase 90% desse lixo é composto de garrafas plásticas, que causam danos em muitas outras partes do Brasil e do mundo. No agreste, o esgoto corre (e fica estagnado) a céu aberto pelas ruas de terra, onde transitam animais e crianças brincam.

A gente atravessa o rio em pequenos barcos de alumínio - as "catraias" - com motor de popa, por R$ 0,30. Há um desconto na compra de 4 bilhetes, que saem por R$ 1,00. Cabem 15 passageiros, que, em instantes, chegam ao outro lado. Os carros atravessam numa balsa. Foi recentemente assinado um convênio com o Ministério do Meio Ambiente para uma série de obras, entre elas a construção de uma ponte.

Muitos investimentos estão sendo feitos na cidade. Governos Federal, Estadual e Municipal, ONGs e empresas privadas estão se unindo para construir um ambiente melhor para a população. Mas muito há ainda por fazer. A população jovem é imensa e vem participando de vários programas e projetos interessantes envolvendo ações sociais, escolaridade, esportes, arte.

O rio Jari é um afluente do rio Amazonas e faz a fronteira entre os estados do Amapá e Pará. Subindo o rio (uma hora de catraia), a gente chega na cachoeira de Santo Antônio. É preciso pagar entre R$ 90,00 e R$ 150,00 para ir até lá. É bom levar água e frutas.
Nesta época do ano ela está meio "seca", mas no inverno (o período das chuvas) ela se transforma. É um passeio maravilhoso. A catraia chega bem perto das quedas e você pode tomar uma deliciosa ducha. Está protegida por lei ambiental, mas em breve será construída uma hidrelétrica de "baixo impacto", que usará 1/3 da vazão para produzir energia.



Outro passeio legal é até o Riacho Doce, há uns 15 minutos de catraia subindo o rio. Foi criada uma infra estrutura para receber os visitantes com serviço de bar, banheiros, barracas, mesas e cadeiras, música ao vivo. O banho é delicioso. Há uma espécie de "piscinão" e a água é corrente, bem fresca, limpa.
Neste local encontramos uns "personagens": macacos ladrões, que não podem ver nada, especialmente de comer ou beber, dando sopa, que levam pro alto das árvores. O problema dessa intimidade com os humanos é que eles acabam bebendo refrigerantes, cerveja e comendo biscoitos e outras "porcarias" industrializadas. Havia também um quati muito gaiato, que ganhou o nome de Genebaldo e que fica fuçando o chão, os troncos das árvores, a perna da gente, em busca de alimento. Ele come insetos, aranhas e o que consegue surrupiar. Tem unhas grandes e um focinho comprido e macio. Muito simpático, ficou nosso amigo.

O Riacho Doce


O povo da região é muito "musical". Os gêneros mais difundidos no momento são o Brega, a Cúmbia, o Zuki, o Boi. Há vários grupos de dança, todos com muita sensualidade. No período em que lá estivemos, estava acontecendo o 14o Festival Nhá Rin, comemorando o aniversário da cidade. Estandes, barraquinhas e um grande palco com arquibancadas foram construídos numa rua do Agreste. Durante 10 dias houve apresentações dos grupos da cidade de dança, música, capoeira, teatro, além de poetas e um concurso de Miss. Nas barracas muita cerveja, cremes de frutas, vatapá, tacacá e outras extravagâncias.


D. Teresinha


Por falar em tacacá, não dá pra deixar de falar no tacacá da D. Teresinha. Numa esquina do Agreste, todos os dias esta simpática senhora monta sua mesinha com muito esmero a partir das 16.00 hs. Servida em cuia própria, pintada de preto com desenhos de flores em relevo, a bebida de origem indígena alimenta e esquenta a alma! Uma goma de mandioca vai por baixo. Em seguida vem o tucupí, um caldo extraído da mandioca, bem temperado, depois as folhas de jambú, uma planta que dá uma leve sensação de dormência, formigamento nos lábios, camarão seco (o bom é o que vem do Maranhão) e pimenta a gosto. Sentados num banco de madeira, só faltávamos entrar em êxtase, tomando aquela delícia. Cada um "monta" o seu de acordo com seu gosto: bem tucupí, pouca goma, mais pimenta.... O povo senta, toma seu tacacá e segue seu caminho. D. Teresinha lava com água as cuias em uma bacia de alumínio bem polida e as deixa escorrer emborcadas sobre a mesa. D. Teresinha também serve mingáu, com ou sem canela, o que nós aqui do Rio de Janeiro chamamos de canjica, feita com milho branco, prato típico das nossas festas juninas. Aos sábados ela prepara também o vatapá, outra iguaria.

Para saber mais sobre a história da região você pode visitar o site da SANS, Sociedade Amapaense para a Natureza e Solidariedade, uma ONG que, em parceria com a Prefeitura, Governo Estadual e Ministério do Meio Ambiente desenvolveu projetos na cidade. Para conhecer o trabalho que realizei com a meninada - uma Oficina de Reciclagem de Sucata - visite meu site www.christiannerothier.com e entre na galeria Oficina em Laranjal do Jari. Você poderá ler meus comentários sobre o trabalho e ver as imagens do pessoal e dos brinquedos por eles construídos.

Foi uma experiência maravilhosa, que eu gostaria de repetir!


Janeiro de 2002

ANDANÇAS

Tenho andado um bocado por esse "mundão véio sem porteira", com uma maleta de ferramentas de um lado, um balaio de livros do outro. Olhos atentos nas ruas, feiras e mercados desse Brasil, me ajudam a garimpar artesãos e seus brinquedos incríveis. Anos de estrada me deram a certeza de que brincadeira é coisa muito séria e que fazer brinquedos é uma grande viagem.
Foi lá pelo finzinho dos anos 80 que comecei a pensar na oficina de brinquedos. Na verdade, eu queria mudar de rumo, depois de 11 anos construindo e restaurando maquetes navais. Toda aquela experiência com ferramentas e madeiras não podia se perder. Mas, o que fazer? Por incrível que possa parecer, foi sentada dentro de um ônibus parado num sinal, olhando uma chave gigante que girava sobre a tabuleta - Chaves na Hora - que a idéia "explodiu" em minha cabeça: Brinquedos! Vou fazer brinquedos!! Naquele instante, mágico, uma sensação incrível tomou conta de mim.
Aos poucos fui descobrindo revistas e livros sobre brinquedos de madeira. Ao mesmo tempo outra idéia foi tomando corpo: promover oficinas de brinquedos para crianças. Porque não? Montei um programa e fui conversar com o pessoal da Criarte - uma escola de arte no Humaitá onde anos antes eu tinha feito um curso. Álvaro Ottoni e Ângela Macedo me receberam de portas e corações abertos. Me deram uma sala e lá montei minha primeira oficina. Junto com Claudia Santos, fizemos um esquema de divulgação, que me levou ao programa Sem Censura na TVE.
Após a entrevista, uma surpresa: Marina Quintanilha Martinez, minha professora de literatura infantil no Ciae da Escolinha de Arte do Brasil assistiu e me ligou com um convite para conhecer sua Biblioteca Infantil Manoel Lino Costa, no Centro do Rio. Reencontrar a Marina seria ótimo, mas o que eu poderia fazer numa biblioteca? Vieram as lembranças das bibliotecas da minha vida. A do colégio de freiras, onde era preciso entrar em silêncio, com as mãos para trás, sentar no lugar marcado e folhear o livro que já estava sobre a mesa. A do ginásio, onde o inspetor vigiava escondido entre as prateleiras. A vontade de sair correndo dali era irresistível! Assim me preparei para visitar a BIMLIC.
O endereço também não era dos mais convidativos. Uma sala num dispensário de freiras na Rua Mem de Sá, área bastante degradada da cidade. Mas foi abrir a porta pra mergulhar de cabeça num lugar mágico e especial, que só uma pessoa como a Marina poderia ter inventado. Era um Espaço Vivo, com livros, crianças, idéias e pessoas sérias e muito envolvidas com o que faziam. Foi um caso de amor à primeira vista. Saí de lá empolgada e na semana seguinte comecei a trabalhar. Fui conhecendo as crianças, levando livros pra casa. Abrimos inscrições para a Oficina de Brinquedos, a princípio uma tarde por semana durante dois meses. Quem faltasse duas vezes seguidas, perdia a vez, pois havia uma grande fila de espera. Foi uma das experiências mais marcantes de minha vida.
Robson, Alex, Diogo, Mark, Ednilson, Wendel, Leidiane, Rafael, Ulisses, Vinícius, Andreza, Marcelo, Fabinho, Paulo e tantos outros! Juntos montamos a oficina, que, ao longo de dois anos produziu brinquedos maravilhosos. Relendo os diários de bordo daquela época, me surpreendo com a lembrança do primeiro dia da oficina, quando conversamos sobre lixo, sucata, desperdício e partimos pra organização do material. Ficou registrada a grande dificuldade das crianças pra simplesmente forrar com papel colorido as caixas de papelão! Com o tempo eles foram dominando tesoura e régua, além de serrote, alicate, martelo, furadeira. Tínhamos nossa própria seção de livros, que no início eram bastante consultados, servindo de ponto de partida. Alguns projetos da biblioteca - Mitologia: O Labirinto de Creta, Contos de fadas: Castelos - acabaram se tornando projetos de longo curso da Oficina. O inverso também ocorreu: a partir da história A Casinha, contada por Helena Jacobina e da idéia de fazer maquetes, surgiu A Lapa vista pelas crianças - um projeto de ecologia urbana, que envolveu todos nós durante alguns meses, produzindo um trabalho muito bom, registrado em vídeo por Paula Saldanha e Roberto Werneck e apresentado no Museu do Telefone.
Em 92, encerrado o contrato de comodato com a instituição, a Biblioteca fechou suas portas. Durante outros dois anos tentamos, em vão, encontrar novo espaço para ela. Hoje o acervo de uns 5.000 livros está em boas mãos, no Sítio Santa Clara. De lá pra cá, muitas águas rolaram, muitas oficinas aconteceram, para crianças e adultos, em instituições de ensino formal e informal, no Rio de Janeiro e em outros estados. Mas é com especial emoção e carinho que penso naquele tempo, onde tanto aprendi com aquelas crianças. Foi uma Escola e tanto, uma "plataforma de vôo", como diz Marina. Até hoje somos parceiras em projetos de arte e leitura, além de comadres. Minha filha Lara, hoje com 6 anos, não poderia ter melhor madrinha!

Setembro de 2001

Diário de Bordo - Encontro do Proler Macapá, setembro de 2001

Poucos dias depois do atentado às torres de N. York, embarco para Macapá um tanto apreensiva. Olhares se cruzavam no saguão do aeroporto, parecendo buscar cumplicidade, demonstrando o mesmo sentimento. Na aeronave, um clima um tanto pesado denunciava as mesmas angústias.
Após atingirmos a altitude de cruzeiro, comecei minhas leituras de bordo. Uma fotografia das mãos queimadas de duas crianças na primeira página do Jornal do Brasil de 25 de setembro me deixou estarrecida. Dois irmãos, pegos escondidos lendo um "gibi violento", foram castigados pela mãe, que os queimou com uma frigideira quente. A caminho de um encontro do Proler, fico pensando nesse nosso país de tantas incongruências. A mãe dizia estar educando, querendo evitar que seus filhos tivessem contato com a violência!
Na revista Ícaro encontrei o artigo do empresário Robert Wong falando sobre o modo como as experiências da infância marcam a pessoa pelo resto de sua vida. Não pude deixar de pensar na história daquelas crianças, em sua relação com a vida e com a leitura. Ele relata então como vem conseguindo organizar empresas seguindo princípios da cultura oriental, na qual foi educado.
Imediatamente comecei a repensar minha palestra, a partir das relações que pude construir com a leitura dos dois textos e das minhas experiências pessoais com projetos e programas de incentivo à leitura. Foram conexões muito interessantes, que provocaram reflexões durante a palestra.

Nas oficinas, costumo me deparar com professores que não são leitores, que odeiam escrever e não sabem o que fazer para que seus alunos gostem de ler. Motiva-las é um grande desafio. Acostumados às muletas do livro didático, presos na grade escolar, muitos deles esqueceram (se é que algum dia conheceram) o prazer de aprender e ensinar e muitas vezes não gostam do que fazem, reclamado do salário, dos parâmetros curriculares, de novos métodos que lhes são impostos.

Sobrevoando a floresta, vi sinuosos rios de prata cintilarem banhados pela lua crescente. Lá em baixo, a floresta amazônica escondia mil segredos na escuridão.
Já no quarto do hotel, me surpreendi com uma borboleta na minha perna. Boa recepção, pensei, pra quem veio falar sobre o "sonho de voar".

Na "Panela do Amapá" começamos o dia, com muito calor, no "meio do mundo", onde aprendi que a gente pode ficar "despombalecida da vida"!
No caminho de volta pro hotel, passamos pela avenida que margeia o Rio Amazonas, espantoso, imenso rio mar, que era antes apenas um risquinho azul no mapa. No final da tarde, a surpresa com a incrível amplitude de maré e o espetáculo da lua e de um arco íris que mergulhava nas águas escuras e cheias de mistérios amazônicos.

Meu primeiro contato com os participantes da oficina não foi dos melhores. A maioria tinha sido, de certo modo, obrigada a comparecer. Muitas receberam um telefonema às 10 horas da noite do dia anterior, com a convocação para o encontro. Um certo desconforto circulou em nossa roda de abertura. Respirei fundo e mergulhei de cabeça no novo desafio. Ao longo da primeira tarde as pessoas foram "amolecendo", se envolvendo e demonstrando interesse. O segundo dia de trabalhos começou num clima melhor. Minha palestra pela manhã foi muito bem recebida. Houve um ótimo debate, num auditório lotado, com grande participação de todos. A mudança para uma sala mais aconchegante contribuiu para o sucesso da tarde. Já havia um ambiente de maior cumplicidade entre nós. Parte do terceiro dia tinha sido destinado à reflexão, ao planejamento em grupo de atividades, e também à avaliação. Pude perceber a grande dificuldade dos participantes em colocar suas idéias no papel. Me pareceu que não estão muito acostumados a essa prática, mas conseguimos bons resultados.

Conheci pessoas muito interessantes. Fiz novos amigos. Marta, Dulcilene, Vera, o pessoal da organização. Fui muito bem recebida, com muito carinho. Gostei de conhecer a Marianna Natoli. Amei os sorvetes que a Socorro levou no meio da tarde! De todos, acabei tendo mais contato com o Breves, de Fortaleza. Adorei conhece-lo. Conversamos muito, afinal só havia nós dois de fora no hotel. Aliás, faz falta um tempo nos encontros para que a gente possa conhecer melhor os profissionais do próprio local. A gente acaba ficando meio isolado no hotel. Muitas vezes as pessoas acham que a gente não quer esse envolvimento, mas acho isso uma bobagem. Trocar experiências é sempre enriquecedor.

Outra surpresa (um presente, eu diria) foi a revoada de andorinhas (as "pomborinhas", como diz a Andaraluna). A caminho da livraria Transa Amazônica no final do dia, Angela parou num sinal de trânsito justo na hora em que milhares de andorinhas surgiram de todos os cantos, em revoada, para pousar nos fios daquela esquina. Todos os dias elas fazem isso, no mesmo local, na mesma hora. E dessa vez, eu estava lá. Foi demais.

Mas as surpresas não terminaram aí. Na beira de um pier que avança rio adentro e que tem até um bondinho pra quem não quiser se cansar, vimos chegar o vento, um ventaréu destamanho que derrubou cadeiras e com ele uma chuva torrencial de lavar a alma, que em instantes passou.

Na Fortaleza, deu pra sentir um arrepio estranho, uma sensação esquisita naquele cair de tarde.

E os sorvetes? Açaí, tapioca, murici, cada um mais gostoso que o outro.

Não posso deixar de falar na livraria da Angela. Sua Transa Amazônica é mesmo especial. Numa rua simpática, uma casa chama a atenção. Uma porta de vidrinhos quadrados se abre pra um ambiente mágico, com todos aqueles livros que a gente quer ver, quer ler e ter. Angela escolhe a dedo seu acervo de preciosidades. Uma porta nos leva pra outra sala com uma grande mesa cheia de livros e muitas estantes. Desta nova sala se pode sair para um aconchegante jardim na frente da garagem, que se abre para eventos de poesia, contadores de história e outras delícias. Dali também a gente pode passar pra dentro da casa. E a casa da Angela é um capítulo à parte. Objetos antigos, peças interessantes, que se juntam a outros livros - o paraíso - pra quem, como eu, gosta de livros, objetos antigos, histórias de antigamente. Foi identificação a primeira vista! A mãe da Angela faz lindas colchas de retalhos e pude ver montes daqueles pedacinhos coloridos que ela organiza pra transformar em arte. Tomamos café e bolachas numa cozinha especial. Tudo ali é especial e único. Os móveis, os objetos. Todos parecem personagens saídos dos livros. Todos têm um encanto especial, têm vida. Uma casa livraria, uma livraria que é casa. Como me senti em casa, na casa da Angela! E ainda por cima, ganhei de presente um livro lindo, que não conhecia e por quem havia me apaixonado na véspera: Álbum de Retratos, do Jorge Fernando dos Santos, com ilustrações da Ana Raquel.


Não podia ir embora sem um modelo de barco do Rio Amazonas. Tenho um "passado náutico-marítimo" e coleciono brinquedos populares. Mas no centro de artesanato não encontrei o barco que eu imaginava. O que eu queria, uma miniatura feita de "miriti", só fui encontrar na feira agroindustrial, na sexta feira a noite. Mal entramos na feira, dou de cara com um estande de barcos. De todos os tamanhos, lindos. Perfeitas réplicas dos que navegam naquelas águas.
Assistimos na maloca desta feira alguns grupos de dança, entre eles uma apresentação de "Marabaixo". Mulheres idosas e crianças, dançando ao som do batuque. Vi ainda dois grupos que chamavam muita atenção pela indumentária magnífica, super colorida. Eram da Guiana e iam se apresentar mais tarde.
Da feira fomos pra um balneário na beira do rio tomar uma cervejinha e comer camarão e peixe, que ninguém é de ferro. Em companhia de Herbert, Adriana, Andréia e Breves, passamos momentos deliciosos.

No aeroporto uma cena insólita: ao lado do detetor de metais desligado, o fiscal da aduana nos perguntou se estávamos levando perfumes e se portávamos armas. Como nossa resposta foi negativa ele nos deixou passar, confiando em nossa palavra e desejando uma boa viagem. Breves e eu demos boas risadas!

Encontro do Proler em Cataguases, MG

Diário de Bordo


Olho pro céu de Cataguases e vejo aquele amontoado cinza chumbo de água que está por vir, de água que ainda não é, mas que quando decidir ser, vai ser pra valer. (Hoje cedo soube que na cidade vizinha até pedra caiu do céu, mas aqui, nem uma gota!)
É chuva das boas pra refrescar o calor demais-da-conta que aconteceu o dia todo.
Por essa janela também vi as montanhas de Minas indo embora de trem pra algum lugar. Um trem preguiçoso, interminável de ferro, levando ferro.
Os relâmpagos de agora reavivam em flashes os acontecimentos dos últimos dias. A fala de um, o sorriso de outro.
Participar de um encontro do Proler é sempre uma aventura inesperada rumo a um conhecido desconhecido.
A gente nunca sabe o que vem pela frente. Mas mesmo assim a gente vai, de peito aberto, pois sabe que vai encontrar gente sensível, interessante, interessada.
Em Macapá foi o Breves, a Angela, a Adriana, a Andreia, Marta, Dulcilene...
Em Cataguases a Rona, o Márcio, viajantes como eu, carregando malas pesadas de sonhos. "O que pesa mais, um kg de amor ou um kg de saudade?" Não sei ainda, Rona, acho que a saudade pesa mais. O amor é leve, muitos kg não pesam nada!
Como é bom andar pelaí fazendo e falando do que a gente gosta.
Aprendendo tantas coisas, tantas coisas...
E ligar pra casa e ouvir aquela falinha doce dizendo "mamãe, você é um poema pra mim".
E a gente conhece livros novos, leva pra casa um doce diferente, um brinquedo da feira, um pano bordado.
E vai conhecendo esse Brasil de tantas brasilidades diferentes, com tantos sotaques, cheiros e paladares.
E vai vendo nos professores as mesmas angústias, dificuldades. "Os meninos não gostam de ler"; "Eu detesto escrever".
Mas vem uma e fala de sua experiência, mostra uma solução e vem a troca.
A gente se surpreende (pra mais e pra menos também!)
A gente se emociona, se diverte.
Sua a camisa, pergunta se vale à pena. E repensa, e rumina pensamento, e muda o roteiro, joga fora o planejamento e tira livro da mala, e tira livro da mala e fala de suas paixões.
E bota no coração mais um tanto de gente que a gente nem sabe se um dia vai tornar a ver, mas que não esquece nunca. Eliane, Daniela, Alvina, Paula,Ariene e as outras companheiras do Proler da cidade, os alunos da oficina. O Ricardo poeta, com muitas coincidências e amigos em comum, que nos presenteou com seu trabalho.
Surpresas a cada momento: na mala agora vai junto um "barco" de sementes que voam que a Leise descobriu e que o Marquinhos e a Érika ajudaram a catar; doces sabores da quituteira; poemas e imagens da cidade; depoimentos dos companheiros da oficina.
Hoje nos emocionamos, choramos com o texto que a Ivânia levou, com o diário de bordo da Celmi.
Levo ainda comigo um novo amigo - o Marquinhos - e seu sensível e delicado trabalho de arte. Uma caixinha mágica, um senhor presente! O bilhetinho carinhoso da filha da Terezila, que adorou brincar com os objetos voadores que sua mãe aprendeu a fazer na oficina. Um barquinho com capota, feito pela Maria Cristina.
A mala está quase pronta pra volta. Retomar pendências, projetos, tarefas interrompidas. Mas já sinto saudades das risadas com Marcio e Rona, divertidos e agradáveis companheiros. Vou sentir falta deles.
Valeu, Cataguases!
Você agora não é apenas um nome qualquer no mapa. Você agora faz parte do meu mapa.

Christianne Rothier
Cataguases, 8 e 9 de novembro de 2001

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